sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

A esmola e o medo


Comprei por um real esta caneta, e só a comprei porque a achei baratinha...

Agora, aqui neste vagão de metrô, escrevo sobre este menino que aqui pede esmolas. Pede, mas as pessoas negam, afinal é o que diz a voz metálica pelos alto-falantes:- Não dê esmolas ou compre de ambulantes. Neguei também, mas me arrependi, olhando bem a figura deste menino de pés descalços, uma calça pequena para ele e uma malha de lã preta e desfiada. No vagão cheio os passageiros riem à toa e não o vêm. Hoje faz frio...

Existe dor e medo estampados neste semblante criança, de um olho vazado e cara suja. Ele está só, ele é só. Tem fome, frio, que só ele mesmo conhece. Não sorriu com a moeda ganha, ele tem medo e uma questão: - Porque só para mim é assim?




tuluca

São Paulo, 13 de novembro de 2006
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Um comentário:

Yan Venturin disse...

Lindo, perfeito. Melhor texto que já li aqui, e olha que é dificil classificar assim, já que seus textos são sempre lindos. Queria fazer um comentario reflexivo e complementar sobre o texto, mas não consigo, estou emocionado pela simplicidade e ternura dele. O mais triste é saber que o menino não vai ter um bom ano novo e nem vai ficar melhor, nada que diga sobre seu texto vai melhorar a vida dele. Seu texto é lindo mas não muda a condição de hoje estar frio. Entretanto o texto, ou melhor seu sentimento, é lindo. Lutemos para que um dia esse tipo de texto seja apenas História, testemunho de um passado sombrio e distante.