sábado, 21 de novembro de 2015

ontem












nesta noite ardia o sol
sonhei que era ontem
e você estava lá comigo
mas sempre amanheço
na sombra deste amar

você já se foi



tuluca

São Paulo, 20 de novembro de 2015
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quinta-feira, 19 de novembro de 2015

pelo ar













e num instante
a poesia me leva pelo ar
vou porque sou e quero
da vida e do lado de lá
assim fico porque estou
de mim e pra onde vou




tuluca

São Paulo, 19 de novembro de 2015
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[Para Nico Nicolaiewsky, postumamente]
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sábado, 10 de outubro de 2015

casa de Maria












na casa de Maria uma tv
piso frio, como as tardes
depois do portão a rua
o perigo e os ruídos
dentro de Maria um coração
uma vontade de amor
uma novela acontecendo
a louça por lavar




tuluca

Santa Isabel, 9 de outubro de 2004
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quarta-feira, 30 de setembro de 2015

sal e sol












vinha você e adiante o mar
depois os dois
sal em movimento e o sol
depois os dois
uma pele salgada e a água
depois os dois
tudo quis saber e o capim
fomos nós dois
ficou o sal e nada à saber
depois os dois




tuluca

São Paulo, 26 de setembro de 2015-09-27
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sábado, 26 de setembro de 2015

medíocre












agora queria sentir seu perfume
mesmo que num momento fugaz
roubar do seu pescoço o aroma
algum ar que fixasse esta paixão
findando esta incerteza medíocre
que o meu coração não contém




tuluca

São Paulo, 25 de setembro de 2015
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domingo, 12 de julho de 2015

muro



em algum lugar longe daqui
um muro de pedra e musgo
depois dele outro horizonte
onde alguém distraído sorri
pessoas caminhando à-tôa
sem pressa na tarde morna
sob este céu de nunca mais



tuluca

São Paulo, 10 de julho de 2015
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sábado, 2 de maio de 2015

insuspeito infinito












aqui, além do horizonte
é manhã e nada clareou
mais uma curva, ninguém
pra lá o final, um desmaio
depois, o insuspeito infinito




tuluca

São Paulo, 1 de maio de 2015
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terça-feira, 7 de abril de 2015

A pedrinha de estrelas















Olhando mais suavemente pras violentas maldades do mundo, paro e não prossigo adiante, estaciono. Penso em mim, neste jeito um pouco tristonho de olhar para a vida. Sempre buscando maneiras de trazer entusiasmo e alegria pros meus dias e o dos outros.

Foi no tempo onde todos os dias guardam aventuras impares e novidades sem igual.
Aconteceu num daqueles dias cheios de muito sol e silêncio. Eu menino andava à-toa pelo areão na beira do corguinho marulhento, quando de repente acho na areia uma pedrinha branca e pequenina, que rebrilhava ao sol como se tivesse milhares de estrelas, tomei-a nas mãos e brinquei por muitas horas, intrigado com a beleza dela. Dentro d'água o brilho cessava. então eu esperava pacientemente ela secar só pra encantado vê-la brilhar novamente.
Estive assim perdido por um tempo de nem sei, mirando estrelas naquele pequeno universo só meu. Apenas eu soube dele e agora você, posso te dizer que foi um dia muito bom e ainda não acabou.
Uns cinquenta anos depois, eu estive numa cidade próxima desse lugar de muita infância, bateu uma saudade enorme daqueles dias, daquele Eu que de tudo se admirava sonhava e aprendia. Assestei o carro em direção ao córrego, à horta, o capinzal, enfim rumei pra um tempo que não existe mais. Dirigi alguns quilômetros, mas logo parei no acostamento pensando no que estava fazendo. Dei meia volta; não poderia ir pr’aqueles dias azuis de não ter fim. Aquele lugar não existe mais neste tempo, hoje ele habita o transcendente de quem sou, fica vivo na pedrinha que continha o firmamento. Ela como eu, existe apenas no que quero de mim mesmo, no doce descobrir das pedras ensolaradas de viver e amar.
Voltei dali, assim como volto a mim depois que a música termina; sempre sabendo que o que tive e sinto, estarão em mim enquanto eu tiver luz no coração. Depois que eu me for, alguém ainda sorrira com a criança do córrego ensolarado. Na arte mora a salvação pra toda dor e o vazio da existência, na arte o começo de tudo, toda a magia de sermos humanos e podermos ser mais que nós mesmos.
A triste alegria é a graça de saber-se humano. É o modo suave de fluir junto pela natureza, transformando o tempo em um período só, sem começo e sem fim, onde tudo vive e calmamente recomeça sempre.
Assim ensandecido escrevo estas palavras do meu Eu, este Eu que nada sabe e ainda experimenta molhar as pedrinhas pra fazer sorrir uma moça querida.

Ainda aí?




tuluca

São Paulo, 5 de abril de 2015
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[Sobre o que vive sempre e não existe, mas que sempre insiste e vivifica, apesar do tempo]

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domingo, 5 de abril de 2015

uma idéia no infinito
















hoje parti resoluto ao meu encontro
procurei, esperei, mas ninguém veio
é porque, quem sabe, eu não exista
ou este pensamento seja um sonho
apenas um espalhamento no infinito



tuluca

São Paulo, 2 de abril de 2015
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sexta-feira, 3 de abril de 2015

largura
















estava esparramado de dor
ninguém sob a luz violeta
sentimentos controversos
nem mesmo um pra quê
ou porque inútil qualquer
nada além desta certeza
de que tudo é por um fio
tão instável como o amor




tuluca

São Paulo, 2 de abril de 2015
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quinta-feira, 2 de abril de 2015

parco alento


aos que aqui vêm me buscar
deixo este pequeno espasmo
parco alento, por sua visita



tuluca

São Paulo, 24 de março de 2015
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quarta-feira, 25 de março de 2015

depois o príncipe












hoje não tenho nada pra contar
já disse muito mais do que podia
o príncipe agora quer descansar
imaginar o inverso de si mesmo
depois? não sei, será só depois



tuluca

São Paulo, 24 de março de 2015
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sábado, 7 de fevereiro de 2015

entre dentes












a tarde em movimento
e assim ela foi embora
com as marcas do novo
espalhadas incontidas
flutuando nas palavras
como fosse nunca mais
e a vida já não bastasse
ela falava entre dentes
e não havia raiva nisso
era só um jeito de calar
sobre o breve da vida
no esplendor de existir



tuluca

São Paulo, 6 de fevereiro de 2015
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terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

aquele jeito meigo












sabe? inda tenho saudade d’um tempo
onde, como criança, nos queríamos tanto
pensava dizer coisas num jeito mais doce
só que o tempo se esqueceu, emudeceu
adormeci depois que você foi embora
e sonhando esqueci aquele jeito meigo
o sorriso fácil, logo depois dos beijos seus
na verdade já não sei como era antes
deste riso amargo, que você me deixou.



tuluca

São Paulo, 3 de fevereiro de 2015
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terça-feira, 6 de janeiro de 2015

flores da fotografia















deu uma saudade de você
no meio desta noite escura
olho pras flores na fotografia
brotando do chão rachado
a música move minha emoção
você por meus pensamentos
flutua ligeira e sorridente
até o amanhã ser agora




tuluca

Nova Friburgo, 5 de janeiro de 2015
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domingo, 4 de janeiro de 2015

escrevendo o infinito












só escrevendo é que sai história
só mesmo andando se caminha
queria menos acordar na noite
melhor saber de seu amanhecer
perceber suas luzes matutinas
preciso caminhar no que perco
abrir mão de tudo que já não sei
ser, fazendo o que é vida além
errar o passo, perder o trem
afinal ser, é provar o infinito




tuluca

Nova Friburgo, 3 de janeiro de 2015
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