sábado, 21 de janeiro de 2012

aguinha do agrião


Pela tarde surda e morna, eu menino com chapéu de palha, camisa xadrez, short amarelo e o sujo borzeguim, seguia à-toa por entre as alamedas de café. Eu tinha o mundo todo e caminhava supondo histórias de outros tempos por aqueles chãos de macio pisar. Lembro que logo depois das goiabeiras vinha o flamboyant vermelho e a cerca da horta solitária, verdade é que não se via gente em canto algum, só mesmo os silêncios. Depois de passar o pequeno portão de taboas, o cheiro de terra úmida e planta perfumada enchia as narinas. Ah, como ali era bom!
Lá, bem no meio, num chão mais duro, havia uma aguinha fininha bem transparente que se podia beber, ela tinha um espraiado cercado de agrião verdinho, com suas florinhas e raízes brancas. Ali eu gostava de demorar... Com a ponta do dedo acariciava as folhas pequenas e arredondas, admirava os pequenos insetos voadores por um tempão. Bebia muita água e deitava com a barriga virada pro céu, braços abertos e sorrindo sem porque nenhum.
Naquela tarde eu existi pra sempre.
Hoje, se me deito olhando pro céu, ele ainda está tão distante e azul como naquele dia pleno, mas já não há mais silêncios a me rodear, ouço muitos ruídos do meu passado e a aguinha do agrião corre quieta pelo canto dos meus olhos.




tuluca

São Paulo, 21 de janeiro de 2012
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[Brinquei com o pretérito dos verbos, pois que esse dia foram muitos e boiam na memória]
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sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

disseste palavras


que disseste tu de mim
tantas palavras
nada perfeito, ou feito
só palavras ásperas imperfeitas
que modo trágico de caíres
amanhã um nada, o vazio
ontem, tudo para sempre
o que queres agora, hoje?
eu... já não sou, nem sei.




tuluca

São Paulo, 20 de junho de 2008
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[A segunda pessoa quão precisa é. Sei do eles, dos muitos, dos imprevistos, do nada visto e daqueles vinte minutos nada soube. Sei que não sei e visito meu passado, relendo cartas, poemas, declarações, borrões e algumas doses de lirismo.]
Hoje, inauguro o entre-colchetes (alusivo a velhas conversas), pretende ser um espaço do alumbramento vigente no momento da postagem. Elpidio
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quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

delírio da hora


No delírio desta hora
conto dos sonhos,
beijo os seios, deito no colo
enfeito-me de olhos
Desafino
rio do umbigo
suor escorre do sorriso
Sei as formas
Já é amanhã




tuluca

São Paulo, abril de 1998
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quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

quente do sol


o úmido dos meus sonhos
vai-se com o quente do sol
agora, no fresco da grama
um cheiro doce de manhã





tuluca

São Paulo, 26 de fevereiro de 1998
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domingo, 15 de janeiro de 2012

anjo da solidão


sou o anjo guardião da solidão
vigio seu coração vagabundo
nestes tantos papeis espalhados
pelos muitos objetos largados
na música melancólica destes dias
nesses atos absurdos e patéticos
cuido desse seu tom amargurado
dessa insanidade que te acomete
olhe o dia! veja além muitos sois
lá, bem depois do fim do mundo
há um sonho com outras roupas
daí, eu anjo, poderei lhe dar paz




tuluca

São Paulo, 14 de janeiro de 2012
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sábado, 14 de janeiro de 2012

Não te tenho

estou me sentindo como se tivesse ter perdendo , tenho vc mas ao mesmo tempo ñ te tenho .... e isso esta me deixando muito triste...
Hoje foi o dia de recorda velho sentimentos...

(do facebook, Cíntia)


tenho este desejo vesgo de quere-lo só pra mim
aqui na solidão destas horas recordo de um nós
perco-o para outros pensamentos distantes daqui
porque nunca o tive, porque nunca se possui ninguém
seu corpo está aqui, seus sonhos pra lá, incognitos

tristonha espero seu olhar
perco você que tanto quero
nem sei qual colo te aquece
se só meus braços te abraçam
sei que estou muito, muito triste
você distante, permanece aqui




tuluca

São Paulo, 14 de janeiro de 2012
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quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

hoje não quero dizer nada


Agora estou com medo, sinto frio... muito frio.
Hoje preparei uma comida gostosa, até tirei uma foto do prato pronto, está bonita. Depois lavei e sequei a pia, coloquei pano de prato limpo no fogão.
Daí, não sabendo mais o que fazer fiquei olhando pros quadros na parede. Me perdi sonhando uma nova arrumação pra mobília, talvez outro tipo de cortina...
Bebi todo o café, fiz um chá, a sala foi ficando maior e mais vazia. Senti mais frio, um gelo mesmo dentro de mim; acho que não conseguirei sorrir nunca mais, um vácuo enorme tomou conta de mim.
Sua comida está fria, meus pés também.
Você... acho, acho que você não vem mais.

sua





tuluca

São Paulo, 19 de janeiro de 2012
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[perdoem esta aventura pretenciosa ao feminino]

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terça-feira, 10 de janeiro de 2012

inútil manhã


era manhã do novo dia
novo? era o mesmo
um ontem renovado
este desmedido vazio
e os planos de espera
este pó de esperança
a mesma brisa suave
este inútil querer-te




tuluca

São Paulo, 9 de janeiro de 2012
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segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

a palavra


a angustia que sinto, é de não saber palavras
não uma palavra qualquer que me explicasse
esta angustia, é da palavra que não sei dizer
é pela palavra que tantas vezes escrevi
e depois estupidamente, tantas vezes apaguei
então... não sei mesmo a palavra redentora
eu, impunemente as apaguei
apaguei




tuluca

São Paulo, 8 de janeiro de 2012
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domingo, 8 de janeiro de 2012

aconteci


pela manhã despertei de mim
segui pela rua turva e aconteci
fui-me nova, sobre o alvoroço




tuluca

São Paulo, 6 de janeiro de 2012
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sábado, 7 de janeiro de 2012

Miss you


Saudade de você eu sinto o tempo todo, até mesmo quando estavamos assim juntos de mãos dadas. Mas a falta de você, começa quando não leio mais seus escritos com meu nome em cima. É tão danada essa ausência, nem dói, mas é exasperante, tira-me o ar, faz o dia triste e os pensamentos vagos e dispersos.
Hoje queria te ver, olhar como estão os botões da sua blusa, saber se você pintou os cabelos, sentir novamente seu cheiro bom, escorregar meus olhos em sua silhueta, coisas assim...
ái... Aqui faz tanto calor, está tão úmido, parece que até eu estou criando mofo, esverdeando. Olho quem chega na estação, depois sigo até nosso café e lá fico imaginando seu olhar alegre olhando pro meu.
A caixa de correio ainda continua vazia, preciso de afago. Vejo seu caminhar, daqui de longe e descubro que ele não encontra o meu.
Quero novamente escutar seu riso, preciso. Volte.

beijo

...



tuluca

São Paulo, 6 de janeiro de 2012
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sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

uma tal voz


uma voz sorriu ternura
mudou as imagens do dia
inverteu sentidos e setas
deixou um som sereno
nos ruídos desta cidade
tão imersa em sonhos
a se espichar pro futuro
sempre tão velho e manco




tuluca

São Paulo, dia de Reis 2012
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