terça-feira, 12 de dezembro de 2023

como um príncipe

 








queria saber melhor dos sonhos
preciso novamente sonhar doçura
deitar ou nem isso e inebriar-me
ser o eleito dos deuses no planeta
provar do sumo adocicado da vida
estar alheio as amargas agruras
sem que nada real me importe
sentir os dias como um príncipe 

 


tuluca

São Paulo, 25 de março de 2018

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quinta-feira, 7 de julho de 2022

Tarde

 







fim de tarde

é tarde



tuluca

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domingo, 25 de abril de 2021

livro saudade


 









ninguém desaparece de todo
depois que se vão do mundo
tornam-se livros na prateleira
um escrito de cada existência
hoje vi em sonho um amigo
estava lá ao lado de outros
de modo que alguém o lesse
com todas as suas histórias
suas alegrias e conquistas
provocando sorrisos suaves
e o que chamamos saudade

 

tuluca

Mury, 25 de abril de 2021

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sábado, 17 de outubro de 2020

a distância







vi mais alguém partindo
como outros já partiram
em outras não despedidas
apenas partidas, vazios
sem palavras inúteis
só olhos atônitos marejados
no seu silêncio gago
cabeça baixa pela calçada
o infinito e a distância



tuluca

São Paulo, 23 de maio de 2012
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segunda-feira, 22 de junho de 2020

Foi num tempo sem tempo


Foi num tempo onde o tempo já não tinha mais hora. Ele escorria sem curso atrapalhando o relógio, que como tolo continuava a marcar os minutos. As semanas se passavam e nada parecia acontecer na vida de cada um, os feriados eram iguais aos dias de semana, todos os marcos temporais muito semelhantes.
O todo eram impressões do que poderia acontecer, as pessoas querendo vislumbrar o futuro, mas tudo era enevoado e incerto.
Passamos a viajar do quarto para a cozinha, buscando algo novo.
Eu olhava pra natureza da janela, achando que tudo estava igual a sempre, nascia o dia, os pássaros cantavam, borboletas voavam entre as flores, tudo igual. Tudo como sempre foi.
  
No início daqueles dias eu procurava notícias, novidades de todos os cantos do planeta, via em todo lugar a mesma situação grave. Nesse tempo eu saia pouco à rua, logo comecei a temer meus vizinhos, medo do contágio.
Pouco depois passei a me interessar por pessoas, ler as coisas que escreviam e elas escreviam em profusão. Comecei a achar que elas enlouqueceram, professavam idéias absurdas demonstrando pensamentos, até mesmo pérfidos.
Eu lia, lia procurando. Comecei a me achar louco também. Pensava demasiadamente na tentativa de me entender, de entender a humanidade, queria descobrir sei lá o que, talvez atrás do novo.

Foi numa das viagens do quarto até a sala que parei em frente ao espelho e desatinei, penso. O mundo já não era pequeno, as paredes se espalhavam pelo piso de taco e o dia brilhava contente, pouco adiante estava o riacho marulhento, o capim verdejava, havia um cheiro bom trazido pelo vento. Olhei pras minhas mãos e notei-as fortes. Uma alegria começou a crescer em mim, na verdade achava-me todo muito forte e feliz. Experimentei correr, fui até a água e molhei meus pés, tudo muito bom bonito.
Nesse momento eu nada mais sabia, nem mesmo me importava com coisa alguma. Havia o mundo e eu. Resolvi caminhar sem rumo algum, fui. Achei frutas e fartei-me. deitei sob o sol e lá fiquei, imagino que sem nada pensar, estava apenas feliz.
Tardava a hora e o sol não descia, continuava pregado no céu, imóvel. Quis perceber ruídos, achei apenas o zunido de insetos. Quis saber de mim, de qual lugar era aquele onde o sol é brando e a grama tão macia.

Recostei-me numa pedra e comecei a resolver aquelas questões.
Primeiro busquei pensar-me como era no meu passado recente. Todos os dias eu acordava as seis horas da manhã e logo me levantava, fazia o desjejum e rápido partia para a rua, ia vida como gostava de pensar. Seguia para o trabalho pensando nos afazeres daquele mesmo dia, estava “ligando as turbinas”, assim pensava eu dentro do metrô. Passava mais um dia, do mesmo modo que o anterior. Trocando sorrisos e cumprimentos, almoçando sozinho, trocando mensagens pelo celular com todos que eu considerava amigos, depois, mais trabalhava e voltava cansado pra casa, porém completamente despreocupado. Em casa ligava a tv enquanto fazia meu jantar, via notícias para dar sono e dormia como anjo.
Ali sentado comecei a imaginar que o que considerava uma vida muito boa, verdadeiramente havia sido sem nenhuma graça até que tudo começou...
Não quis pensar nesse começo e quedei-me a pesar em como fora boa minha infância, houveram muitos dias tranquilos e pessoas que me guardaram, tive amor de minha mãe e proteção contra os males do mundo de meu pai. Comi bem de boa comida, tive amigos bem educados e bem nutridos. Viajava à praia nas férias escolares e não fazia a menor idéia das vicissitudes que uma vida pode ter. Com isso sorri pela sorte de nascimento que tive; eu fui um privilegiado. Ali sentado sem rumo de pensamentos, começaram a surgir formulas matemáticas em minha mente, parei em (pi r²), tão simples, seu centro “um ponto é um lugar no espaço”, números a preencher os pensamentos. Liberdade e prisão, não sei, acho que nada sei, mas as maçãs caem do galho e Eva as oferece pra Adão. Ou não era isso?
Achei que a pedra onde estava era o centro. Resolvi caminhar ao redor para formar o circulo. Dei muitas voltas ao redor da pedra e o sol a oeste continuava como que pintado. Era pintado no azul como na página do livro infantil, onde Dom Quixote chegava à Mancha olhando imóvel o mar imenso; tão bonito que era. Sonho materializado do irreal, o sol um circulo amarelo e quente no céu de sempre.

O caminho pela vida, tantos acasos que se empilharam no existir. O que fiz eu?
Ali onde estava tudo era igual, nem frio, nem calor. Não me assustava olhar pra aquele lugar sem tempo, ou com todo o tempo, também não estive incomodado com aquilo que não entendia, tão pouco estive intrigado com aquele lugar incomum.
Quem sabe fosse melhor caminhar. E andando fui pensando em como foi que apareci ali?
No primeiro dia, depois do começo, tudo parecia normal. Perdi meu emprego, tão bom que era, e estava em casa e só. Pouco me preocupei com aquilo. Pensando no que fazer, resolvi abastecer-me de alimentos e remédios pra mais de três mês e foi isso que fiz no dia seguinte. Agora preocupado, colocava minha atenção nas notícias desencontradas, que pululavam naqueles primeiros dias. Achei que devia cuidar de mim, refiz muitas vezes a lista de mantimentos e por uns quatro dias consecutivos saia por comprar mais provisões. Comecei a me achar aturdido com as opiniões dispares que iam surgindo profusamente em meu computador, comia notícias. Nesse tempo pensava em mim e na maneira de sair daquilo tudo, conversava frequentemente com amigos.

Algumas semanas depois passei a achar que todos estavam certos e também que todos erravam em suas opiniões. Nada do que ficava sabendo tirava-me daquele lugar sem saída, onde eu era completamente impotente. Foi aí que comecei a pensar seriamente nos menos favorecidos de todo o mundo. Pensava que nem todo governo trabalhava para seus governados e sim que as pessoas existiam para serem governadas. O povo existe para dar razão a produção de todas as coisas. Os pensamentos ficaram assim invertidos, como se eu tivesse nariz para segurar os óculos, mas logo abandonei essas idéias todas, achei-me idiota em pensar daquele modo esquisito. Nesse período mudei meus horários de sono, que ficaram aleatórios, dormia e comia sem nenhuma regra. Foi aí que o tempo começou a se perder, ficou esquecido de marchar. Comecei errando o dia da semana em que estava, depois despercebido das horas, não sabia se era dia ou noite, mesmo olhando pela janela. 

Talvez por não fazer nada útil, o tempo escorresse e desaparecesse sem ser percebido. Já não importava se dia ou noite, meu corpo vagava pelo apartamento, assim como se não estivesse acordado, vagava simplesmente.
Atônito continuava vivo, deixei de me assear, às vezes tomava um banho que se demorava por mais de hora e lá ficava sonhando, relembrando dias felizes da infância, ou erros que cometi nesse período, depois me deitava e dormia profundamente.
Mais um dia e outro sem mais nada entender, achava-me louco. Lembrava de como eram as pessoas sãs e corretas. Como seria bom ser correto agora... Estava livre, ou não, nem sei agora dizer como estava. Sei que pensava sem parar todo tipo de problema, ou proposta. Só pensava e cada momento, menos sabia de meu corpo, flanava pelos aposentos.

Parei, olhei para trás e lá continuava o sol a se por, imóvel no céu amarelo.
Sentei-me, não havia ninguém mais, somente eu por todo lado que eu olhasse.
Num repente lembrei de tudo. Eu olhara pela janela do apartamento na tentativa de saber se era dia ou noite, olhei por ela perscrutando a cidade o céu. Vi que nada entendia e quis ir ao banheiro, lembro que pensei em como fazer o caminho até lá. Atravessei a sala e fui pelo corredor, na frente do espelho parei e vi-me, fiquei ali olhando-me detidamente, depois a imagem sumiu e o espelho parecia uma pintura, quis com o dedo tocar a tela e o fiz. A visão se turvou, quando voltei a enxergar via o corredor do apartamento e sujeira pelo chão. Deixei o espelho, virei e segui até o regato onde a vida faz todo sentido.

  

tuluca

Mury, 22 de junho de 2020.
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domingo, 8 de março de 2020

Novo dia












amanhã é mais um dia
novo peso pra carregar
outro dia a rolar na vida
na procura da liberdade
daquilo tudo que sonho
até lá, a noite silenciosa
pensando nas passadas
destes chãos por trilhar
nos todos descaminhos
e repentinas amarguras
nas alegrias insuspeitas
hoje, é sempre amanhã




tuluca

Debossam, 7 de março de 2018
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quarta-feira, 11 de julho de 2018

multiplicidade












agora é aqui onde estou
hoje está em todo tempo
assim o começo é final
e toda margem central
queria mais tempo aqui
outras esferas de sentir



tuluca

São Tomé das Letras, 29 de junho de 2018
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