sexta-feira, 12 de julho de 2013

Inferno

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Estive no inferno.
Nada era a primeira vista muito estranho, apenas uma grande casa, aliás, nem sei bem se era uma casa, porque estive apenas nos jardins dessa casa. Era um jardim inglês com a natureza toda bem disciplinada e bem aparada, com o piso e muretas em pedras brancas e foscas, como fossem dum mármore rústico. O verde era todo igual, velho e do mesmo tom escuro.
Entrei por portões de ferro batido e caminhei, junto com minha acompanhante, por esses caminhos de pedra esbranquiçada, fomos até um gazebo de colunas esguias e pintadas de branco; lá cadeiras de palha com espaldar alto e sobre elas almofadas brancas, uma mesa de centro também branca com tampo de vidro, nela frutas pálidas como cera, tudo muito elegante.
A pessoa importante que nos conduziu para dentro dessa festa e ao mesmo tempo nos fez perder a hora de outros compromissos, era um dos cinco que estavam nesse fim de tarde naquele lugar, apresentou-me ao que era o mais importante de todos, esse não se levantou da cadeira. Tinha os olhos límpidos e escuros como sua pele acinzentada, parecia ter grande estatura, muito magro e imberbe; esticou sua mão muito fina e cumprimentou-me com um assentimento de cabeça. Lembro que também não sorri e apresentei quem estava comigo, ela sorria enquanto era apresentada aos convivas, que ficaram em silêncio, sem movimentos nas faces e olhos parados.
Enquanto se desenrolava as apresentações fui olhando melhor aquele jardim, que embora sombrio era bem bonito, não exuberante. Fui reparando nas construções de pedras brancas do jardim e foi nesse momento que percebi que não havia vento e as coisas todas pareciam paradas, estáticas, atemporais. Até a grande fonte, também feita de mármore branco amarelado era quieta, com a exceção de dois meios bois, que pareciam querer se despregar da parede que os prendia; balançavam a cabeça num movimento igual, como fossem mecânicos, tentavam se desprender daquela parede pretendo alcançar o gramado. Pensei, eles querem pastar... Foi nesse exato instante que compreendi que seríamos o jantar de logo mais e acordei.



tuluca

São Paulo, 12 de junho de 2013
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