quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

cheiro de jasmim










a vida sorri abundante
nestas vívidas manhãs
num cheiro de jasmim
até onde o olhar alcança
nas suas mãos o breve
no sorriso o duradouro
hoje, tudo está em paz




tuluca

São Paulo, 10 de dezembro de 2013
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sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Mãos de irmãos






Quando menino eu e minha irmã ouvíamos histórias fantásticas ao lado de um fogão de lenha. Depois, com luz da lua, ou em noite escura voltávamos pelo pasto, de mãos dadas, morrendo de medo e em silêncio. lembrando das histórias e ouvindo, aqui e ali, um assobio que podia ser do demo ou do saci.
Tínhamos muito medo de atravessar o pasto úmido da noite. Hoje, é bom recordar da mão de minha irmã que confiava em mim.





tuluca

São Paulo, 28 de outubro de 2013
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quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Você não acontecida












Tenho saudades de você em 2013, aqui a noite está silente...
Penso em seus caminhos diurnos; por quais calçadas pisaram seus pés, se foram incertos ou decididos. Isto é um nada mesmo, mas é um modo de pensar você num futuro qualquer.
Aqui registro minha espera d’um chamado seu; recordando o tudo que não aconteceu, relembrando palavras sem contexto dispersas entre meus dedos e recém caídas de seus lábios.
Há uma vontade de encontrar você... Saber de suas cores, seus cheiros, seus brilhos; saber da ponta de seus dedos e do que eu possa ver de sua alma através de seus olhos. Depois... Beber o café já frio e sorrir.

Beijo

PAZ



tuluca

São Paulo, 28 de outubro de 2013
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[Cartas preconizam o futuro, espreitam possibilidades]
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quinta-feira, 26 de setembro de 2013

seus olhos meus
















quero teus olhos para poder te olhar
de modo que estas mãos pesadas
possam entender seu corpo frágil
e o áspero destes velhos calos
saibam brandamente acarinhar



tuluca

São Paulo, 26 de setembro de 2013
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domingo, 1 de setembro de 2013

Baronesa
















Baronesa veio me ver
é dia do champanhe
sedas, dentes e dedos
vem ávida, deslumbrante
impunemente sorrindo
despida dos pudores
assim granfina superior
geme, arfa desmedido
gargalha e desaparece



tuluca

São Paulo, 24 de agosto de 2013
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terça-feira, 20 de agosto de 2013

nariz sujo












manhã de inverno, vento
uma criança na calçada
nariz sujo, um futuro?
e a Terra imensa girando
girando no vazio do céu





tuluca

São Paulo, 19 de agosto de 2013
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terça-feira, 13 de agosto de 2013

assim os dias escorreram entre os dedos













na noite de ir-me
nenhum cheiro
na mala este peso
e tanta saudade

desejo




tuluca

São Paulo, 12 de agosto de 2013
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terça-feira, 6 de agosto de 2013

olhos encantados











estava assim parado à-toa
nada a ser feito, ou dito
e a vida toda pra construir
muitos sons do passado
e uns olhos encantados

achei de procurar você

sempre mais um lugar
mais de coisa nenhuma
muitos dias e movimento
sempre no que é começo
nas muitas infinitas manhãs
foi assim, os dias passaram
ficaram uns restos alheios
nesta história de nós dois
nesse nós que não existiu




tuluca

São Paulo, 5 de agosto de 2013
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sexta-feira, 12 de julho de 2013

Inferno

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Estive no inferno.
Nada era a primeira vista muito estranho, apenas uma grande casa, aliás, nem sei bem se era uma casa, porque estive apenas nos jardins dessa casa. Era um jardim inglês com a natureza toda bem disciplinada e bem aparada, com o piso e muretas em pedras brancas e foscas, como fossem dum mármore rústico. O verde era todo igual, velho e do mesmo tom escuro.
Entrei por portões de ferro batido e caminhei, junto com minha acompanhante, por esses caminhos de pedra esbranquiçada, fomos até um gazebo de colunas esguias e pintadas de branco; lá cadeiras de palha com espaldar alto e sobre elas almofadas brancas, uma mesa de centro também branca com tampo de vidro, nela frutas pálidas como cera, tudo muito elegante.
A pessoa importante que nos conduziu para dentro dessa festa e ao mesmo tempo nos fez perder a hora de outros compromissos, era um dos cinco que estavam nesse fim de tarde naquele lugar, apresentou-me ao que era o mais importante de todos, esse não se levantou da cadeira. Tinha os olhos límpidos e escuros como sua pele acinzentada, parecia ter grande estatura, muito magro e imberbe; esticou sua mão muito fina e cumprimentou-me com um assentimento de cabeça. Lembro que também não sorri e apresentei quem estava comigo, ela sorria enquanto era apresentada aos convivas, que ficaram em silêncio, sem movimentos nas faces e olhos parados.
Enquanto se desenrolava as apresentações fui olhando melhor aquele jardim, que embora sombrio era bem bonito, não exuberante. Fui reparando nas construções de pedras brancas do jardim e foi nesse momento que percebi que não havia vento e as coisas todas pareciam paradas, estáticas, atemporais. Até a grande fonte, também feita de mármore branco amarelado era quieta, com a exceção de dois meios bois, que pareciam querer se despregar da parede que os prendia; balançavam a cabeça num movimento igual, como fossem mecânicos, tentavam se desprender daquela parede pretendo alcançar o gramado. Pensei, eles querem pastar... Foi nesse exato instante que compreendi que seríamos o jantar de logo mais e acordei.



tuluca

São Paulo, 12 de junho de 2013
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domingo, 2 de junho de 2013

Filha Amanda

Por gostar da música “te recuerdo Amanda” de Victor Jara, dei o nome de Amanda a uma de minhas filhas, ela morreu nenê ainda. Foi o enterro mais triste que segui; estávamos apenas eu e o coveiro, o dia amanhecia úmido e havia uma névoa anunciando um dia muito quente.
Pelo que sei de mim, naquilo só estávamos eu e o infinito navegando naquela turva manhã, como caminhasse por um vácuo surdo.


tuluca

São Paulo, 2 de junho de 2013
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sexta-feira, 31 de maio de 2013

distraída






encontrei-a assim distraída
sem me procurar, sem atinar
os mesmos olhos sorridentes
depois para além do amanhã
tantas descobertas ruidosas
neste cheiro de brisa morna




tuluca

São Paulo, 30 de maio de 2013
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quarta-feira, 29 de maio de 2013

dia surdo
















hoje queria chorar
estar mais comigo
mas sai, fui trabalhar
nem sei mais de mim
despenco pela vida
assim em silêncio
pelo surdo deste dia




tuluca

São Paulo, 28 de maio de 2013
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quinta-feira, 23 de maio de 2013

presa na reboleira
















foi na reboleira que seu cabelo enroscou
já era tarde e silenciosa chegava a noite
segurando seus pensamentos no vazio
as mãos na cabeça e nenhuma palavra
nos olhos o brilho de ainda quero mais




tuluca

São Paulo, 22 de maio de 2013
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domingo, 19 de maio de 2013

A cidade












Venha se arremessar na vida
Venha, vamos correr por todos os espaços
Saber, que sabedoria é bom.
Venha ver a cidade que aqui há luz
Saber as ruas, viver o lixo monumental
Rir de toda fome alheia
Desvairar com os prédios lindos,
é só olhar para cima
Tudo tão lindo, tantas luzes verdes
No automóvel por avenidas,
passear sobre papeis e sujeira humana
Tanta dor e tantos gritos
Os loucos e seu silêncio,
as buzinas, os motores
Ah! Quantas luzes...
Venha ver a cidade!
Ah! Que bom, quanta miséria que não é a nossa
Ôh cidade linda!





tuluca

São Paulo, 27 de setembro de 1997
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terça-feira, 14 de maio de 2013

Maní
















Maní foi ver o mundo
ela disse que ia e foi
quanta coragem nos pés
era o tênis cor de rosa
Maní levou o seu violão
hoje não tem pipoca,
nem pão frito, ou confidência
Maní, Maní
cadê sua sombra no muro
aquele riso zombeteiro
e o colorido de seu cabelo?
Maní dos dentes brancos
dos livros e dedos finos
distante se esquece daqui
Maní, Maní
quanta saudade de você



tuluca

São Paulo, 13 de maio 2013
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sexta-feira, 3 de maio de 2013

Nelma Rejane













-Rejane vc está mesmo muito bonita, além da alegria colorida de seu vestido rodado.
-Tuluca, amei teu comentario poetico!



Quem são os nossos mortos?

São aqueles que estarão vivos em nossa lembrança, aqueles que ao partir levaram um pouco de nós e deixaram uma parte de si; são aqueles que docemente encantaram dias e foram como alvorada nos instantes juntos.


[a Rejane partiu]



tuluca


São Paulo, 3 de maio de 2013
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quarta-feira, 24 de abril de 2013

10 anos

O Extra Tempo fez dez anos em março. Repito agora a primeira postagem.




o tempo nem pressa tem
o problema é que ele não tem espaço
fecha-se num fio longo,
e eu aqui caminhando dentro dele, 
nem sei bem como ir
mas vou


Elpidio

11 de março de 2003
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sábado, 13 de abril de 2013

a serra












pela luz perdeu-se o dia
e a serra coberta de noite
deixou seu verde no mar





tuluca

São Paulo, 1 de abril de 2013 
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terça-feira, 9 de abril de 2013

barro seco
















nestas estradas de barro seco
o verde queimado de esquecimento
não esconde a montanha azulada
daquele horizonte quase inexistente
nós aqui, à-toa, caminhamos ao sol
tenho meus olhos neste chão de pó
e os ouvidos buscando uma certeza
nas palavras daquela velha criança
que não imaginava um dia anoitecer



tuluca

São Paulo, 20 de março 2013
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sábado, 9 de março de 2013

manhãs brejeiras













meus dias eram assim brejeiros
tudo era graça e o vento bom
nas manhãs banhadas de azul
o corguinho descia marulhento
lavando pés, rolando pedra
eu era criança, olhava nuvem
ria à-toa, falava com bicho
e foi naqueles tantos, já nem sei
que me vi pela primeira vez

ou pela última vez...





tuluca

São Paulo, 8 de março de 2013
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quarta-feira, 6 de março de 2013

seguindo o tempo








o tempo segue no caminho de amanhã
vai célere e diligente para esse nunca
sigo atrás buscando os velhos sonhos
procurando o lugar onde parar e olhar
agora já me canso dessa marcha insana
estou um tanto inseguro do que almejo
perdido entre tantas conversas vazias
com outros desiludidos caminhantes
olho o rápido tempo à minha frente
sempre a espera de que ele tropece
eu, sempre atrás, quase desmaiado
ainda sorrio lembrando meu início




tuluca

São Paulo, 4 de março de 2013
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terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

não somos












nós nunca fomos um
também não fomos dois
nem ficamos, ou perdemos
nos ganhamos na distância
na falta de sermos nós




tuluca

São Paulo, 15 de fevereiro de 2013
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sábado, 19 de janeiro de 2013

Azul












preciso buscar muitos azuis
pra derramar noutros tantos
das muitas manhãs serenas
nos umbrais das portas todas
nas janelas e pelas paredes
até que de muito, ele escorra
invada a vida e tudo vire céu




tuluca

São Paulo, 18 de janeiro de 2013
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quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

entre o nada e o porque













ficamos assim
entre o nada e o porque
muitos foram os instantes
todos tão cheios de vazio
depois cada um a se ir de nós
nessas muitas partidas
de imensas noites vãs
sem aurora, sem remédio
nem espanto, quase porque
só que agora já não sei



tuluca

São Paulo, 19 de janeiro de 2010
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