quarta-feira, 21 de julho de 2010

Existe onde vou lembrando


Vem dum espaço distante e hoje só existe onde vou lembrando.
Era um sol ainda quente já despencando pra trás do morro. Os cheiros todos juntos: de bosta de vaca e cavalo, fogão de lenha, flor de café e mato pisado preenchiam minhas narinas, e eu nem bem os percebia. Veio a luz elétrica e os rádios encheram aquela tarde de sons, que se uniram aos animais e o marulhoso corguinho. Não ouvi aquelas músicas, mas fiquei com os sons, os cheiros e as imagens dessa perene tarde, a correr pelo pasto, subindo em árvore, sentado no moirão da porteira, brincando nos bambuais. Foram tantas dessas tardes tão iguais, do mesmo céu muito azul e ruídos de roça, que hoje ela é uma tarde só nos meus nove anos.



tuluca

São Paulo, 21 de julho de 2010

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4 comentários:

Paz Marta disse...

Sabe o que? Reverteu-se a distância. Lendo e vendo aqui suas memórias, a forma como você as descreve é tão contundente, que as sensações de som, cheiros, cores e sabores me tansportam acho que pra Itapira. Quase ouço, quase vejo, quase sinto, o que o menino que ainda não tinha 9 anos pintou.
É o milagre das palavras, que os "são" escribas realizam.
Gostei, seja perdulário sempre! Presenteie seus leitores com o seu ser.
Aff, tá mais ou menos meu comentário, me faltaram palavras que descrevessem meu encantamento.
Xim!!!

Anônimo disse...

a permanente tarde no cedo do relembrar... até

Nivaldete disse...

Bela memória. Uma semiótica do vivido. Esse o verdadeiro tesouro.
Um abraço.

Anônimo disse...

regressando e relenco...

até